A primeira reunião destinada à discussão
de destaques ao relatório substitutivo ao PL 8035/2010 (Plano Nacional
de Educação), realizada na tarde de hoje (terça, 8/5) foi bastante
concorrida. Compareceram à sessão 26 deputados, entre os que
participaram diretamente das discussões e os que só passaram pelo local
ou assinaram a lista de presença. A Comissão constitui-se de 26
titulares e 26 suplentes.
Ativistas de várias organizações,
movimentos e redes da sociedade civil ocupavam o plenário 10 do anexo 2
da Câmara dos Deputados. Um grupo do movimento “PNE pra Valer!” entregou
aos parlamentares carta pública divulgada hoje pela Campanha Nacional
pelo Direito à Educação dirigida aos deputados da Comissão Especial, com
o título “Sobre a votação do PNE: sugestões técnicas e pedido de coerência na deliberação sobre o financiamento da educação”.
Entre os parlamentares que fizeram uso
da palavra durante a sessão, a maioria defendeu propostas da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação e do movimento “PNE pra Valer!”, com
destaque para os 10% do PIB. Vários deputados também mencionaram o ato em favor dos 10% do PIB,
convocado por entidades estudantis, com apoio da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, que acontecerá amanhã (quarta 9/5), a partir do
meio dia, no Salão Verde da Câmara dos Deputados.
“Nossa responsabilidade maior é fazer
história, aprovando um plano que transcende o limite cronológico da
atual gestão, votando a favor dos 10% do PIB para educação”, declarou o
deputado Rogério Marinho (PSDB-RN). Sobre a conversa da Comissão com o
ministro Guido Mantega, o deputado Marinho disse ter a impressão de que o
ministro “estava pouco inteirado sobre o que é o PNE”.
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP)
anunciou que já tem o número regimental de assinaturas para reapresentar
requerimento de convocação do ministro Mantega, pois a solicitação
apresentada na reunião anterior não foi apreciada por falta de quórum.
“É preciso que o ministro da Fazenda venha até a Comissão para explicar
porque o governo não quer ou não pode investir os recursos necessários
para o PNE, ou seja, 10% do PIB para educação pública”, defendeu o
deputado.
Artur Bruno (PT-CE) lembrou que nunca
uma matéria foi tão debatida, com grande participação da sociedade
civil. “A inclusão do CAQi é um grande avanço nesse PNE, que é um plano
da sociedade, pois muito do que consta no texto foi debatido nas
conferências e veio de propostas da sociedade, em especial da Campanha”.
O deputado Izalci (PR-DF) disse que já
coletou 271 assinaturas em favor dos 10% do PIB, caso o assunto vá a
plenário. “Utilizando o CAQi como referência para os cálculos,
conclui-se que é preciso 10% do PIB. Não dá para aprovar o Plano sem
definir quem vai pagar a conta”.
Acabando de chegar de reunião do FNE
(Fórum Nacional de Educação), a deputada Fátima Bezerra (PT-RN), trouxe
preocupação do Fórum sobre o calendário de aprovação do PNE. “O Fórum
quer que o PNE seja aprovado o mais rápido possível, sem prejuízo de sua
qualidade”, disse Fátima. Em sua fala, a deputada Fátima registrou a
Carta Aberta divulgada pela Campanha.
O FNE divulgou hoje nota
com conjunto de recomendações para a votação da matéria, algumas em
concordância com a Carta Aberta aos Parlamentares, publicada pela
Campanha. Uma delas é instituir o Sistema Nacional de Educação em lei
específica, em até dois anos depois da aprovação do PNE. O Fórum também
defende patamar de 10% do PIB para educação pública, em consonância com
as deliberações das conferências nacionais de educação (Conae e Coneb). O
FNE ainda recomenda que o texto do PNE utilize o conceito de
investimento público direto, conforme defendido pela Campanha.
O deputado Raul Henry (PMDB-PE) destacou
que o grande desafio da educação brasileira é a qualidade da educação
pública. “A meta de 7,5% do PIB em dez anos está aquém das
possibilidades do Brasil. Eu me junto aos que defendem os 10% do PIB e
lamento que a Comissão Especial não tenha chegado a um consenso em torno
disso”, complementou.
Já a deputada Dorinha Seabra Rezende
(DEM-TO) anunciou que vai apresentar vários destaques, centralmente
sobre financiamento. “Entendo que as metas por nós defendidas carecem de
recursos para seu cumprimento, sobretudo as de valorização docente. A
presidenta Dilma prometeu 7,5 % do PIB até o final do seu mandato, e do
jeito que o relatório está, nem isso seria alcançado. Além disso, é
preciso definir a contribuição de cada ente federado”, explicou.
Para o deputado Paulo Rubem Santiago
(PDT-PE), o Governo Federal utiliza dois pesos e duas medidas quanto
trata de financiamento de políticas sociais e de proteção ao mercado
financeiro. Segundo ele, estudos do Ipea mostram que o aumento da carga
tributária nos últimos vinte anos não teve correspondente acréscimo no
percentual de investimento em políticas educacionais. O deputado ainda
destacou que as desigualdades sociais se refletem na educação. “Seria
uma incoerência histórica aprovar de 7% do PIB para 2020, que era a meta
para 2006. Nós não podemos trair a memória de Florestan Fernandes, de
Paulo Freire, não podemos jogar no lixo o Manifesto dos Pioneiros, em
nome de atender os interesses da elite que vive de juros”, desafiou
Paulo Rubem. “Não acredito que quem foi contra o veto dos 7% há dez anos
seja a favor do veto aos 10% do PIB hoje”, disse o deputado,
referindo-se ao veto do então presidente Fernando Henrique Cardoso à
meta do PNE 2001-2010 (Lei 10.172/2001), que estabelecia o patamar de 7%
do PIB para educação pública, a ser alcançada até 2006.
Até a tarde de hoje, 102 destaques já
tinham sido registrados junto à Comissão Especial do PNE. Diante disso, o
deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) avalia que a votação deve ocorrer no
dia 22/5. “Vou olhar os destaques com muito carinho, pois estou
convencido de que o relatório precisa ser aperfeiçoado”, declarou o
relator.
Para o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, “está na hora do PNE ser votado, com aperfeiçoamentos urgentes, expressos em nossa Carta Pública e na 5ª Nota Pública do FNE”. Segundo ele, o mais importante é “o Brasil começar a associar acesso com qualidade nos próximos dez anos, da creche à pós-graduação, e isso só é possível com um volume de investimento público equivalente a 10% do PIB em educação pública. Não há outro caminho”.
A reunião da Comissão Especial do PNE
foi presidida pela deputada Teresa Surita (PMDB-RR) e, posteriormente,
pelo deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES).
Autor: Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Nenhum comentário:
Postar um comentário